quarta-feira, 20 de abril de 2011

::: Livros e telenovela :::

Nos capítulos da semana da novela Insensato Coração (Rede Globo), a personagem Norma (Glória Pires), apareceu diversas vezes lendo Ira dos Anjos, de Sidney Sheldon. Seguimos refletindo sobre as influências da literatura na nossa vida cotidiana, em especial, na telenovela brasileira.
Em nossa conversa com Nelson Nadotti, um dos colaboradores dos escritores de Insensato Coração, perguntamos sobre a escolha da leitura como companheira de Norma nesse período de reclusão bem como sobre o papel dessas leituras na transformação da personagem. Confira aqui mais um trecho do bate-papo:

OUSE SABER!: Como se deu a introdução dos livros às características da personagem, como essa ideia foi construída pelos autores?

NELSON NADOTTI: Na novela “Insensato Coração”, que está no ar, há uma reverência sutil à literatura através do personagem Norma (interpretado por Glória Pires), a presidiária que cumpre pena injustamente e só pensa em sair para reencontrar o bandido que a fez parar ali. É uma tema clássico, a da vingança – e Norma obtém suas armas para esta guerra indo à biblioteca da prisão e lá buscando romances que vão fazê-la refletir sobre a vida e sobre as pessoas. Esta decisão de fazer de Norma uma leitora que se transforma em outra pessoa através dos livros partiu do próprio autor da novela, Gilberto Braga, como se fosse a atitude mais natural de quem precisa reavaliar sua trajetória. Entre os livros que Norma procura, aparecem em cena Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamazov”, de Dostoievski, além de “O Outro Lado da Meia-Noite”, de Sidney Sheldon (escritor à moda dos folhetins tradicionais, e por isto autor de vários “best-sellers”). Os romances aqui mencionados contém elementos comuns à história de Norma; para os espectadores mais interessados, fica também a sugestão de uma boa leitura.

OUSE SABER: Pode-se dizer que as leituras estão estimulando Norma a refletir tanto sobre o comportamento social quanto sobre suas reações?

NELSON NADOTTI: Com certeza, Norma aprende com os livros mais do que poderia supor. Ela reflete sobre a frase “Se Deus não existe, então tudo é permitido” – logo ela que viveu placidamente até ali, sem se dar conta da complexidade das relações em sua volta. Esta placidez fez com que ela se envolvesse, inocentemente, com um homem sem caráter nenhum, a perversão em pessoa, que fingiu amá-la só para usar Norma a favor de sua ambição criminosa. A partir da leitura da frase citada, Norma passa a entender o motor que move o homem que a prejudicou. Norma agora se vê capaz de ir ao encalço do bandido, porque conhece melhor o comportamento doentio dele, e com isso ela está mais forte em sua busca de justiça.

Nos próximos dias vamos publicar a continuação desse papo, onde Nadotti vai nos falar do processo criativo, e das referências literárias que influenciam a construção da telenovela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário