segunda-feira, 22 de julho de 2013

Meu livro preferido é... A DIVINA COMÉDIA

"Confesso que meu livro preferido é  A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Sou um fanático pela literatura italiana, em especial a piamontesa, da terra original de meus pais. Dante é, sem dúvida, meu poeta favorito. Quando ensinava literatura, dedicava especial intensidade às aulas sobre a Divina Comédia."

Papa Francisco
- Jorge Bergoglio, formado em Ciências Químicas e em Humanidades, foi ordenado padre em 1969. Argentino de nascimento, filho de italianos, tornou-se o primeiro papa moderno não-europeu ao ser eleito em 13 de março de 2013 o atual Sumo Pontífice, que hoje iniciou sua primeira viagem internacional como Papa - no Rio de Janeiro, onde preside a Jornada Mundial da Juventude 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Neoptólemo e a crise moral

NEOPTÓLEMO - Então não é mesmo nada seguro abordá-lo?
ULISSES - Não, a não ser que o agarres pela astúcia,
como te aconselho.
NEOPTÓLEMO - E não te parece vergonhoso mentir?
ULISSES - Não, se a mentira nos traz a salvação.
NEOPTÓLEMO - Com que cara ousa alguém proclamar tal doutrina?
ULISSES - Quando se age para o nosso interesse, não se deve hesitar.

(Filoctetes, tragédia de Sófocles - tradução de José Ribeiro Ferreira)


Filoctetes em antiga cerâmica grega
Entre 431 a.C. e 404 a.C., os interesses econômicos e políticos entre diferentes cidades de uma mesma origem motivaram o início do declínio de um aparente equilíbrio de forças: Atenas, centro civilizatório e político da grécia, e Esparta, cidade grega de forte tradição militarista, entraram em um conflito de vinte sete anos, a Guerra do Peloponeso, uma luta de gregos contra gregos, motivada pelo conflito de interesses econômicos e políticos entre as duas cidades gregas mais importantes: Atenas e Esparta. O confronto, vencido pela chamada Liga do Peloponeso - uma conjunção de diversas cidades oligárquicas lideradas por Esparta -, seria motivo do enfraquecimento das cidades gregas como um todo e o ambiente ideal para que os exércitos de Filipe II, rei da Macedônia, conquistasse a Grécia décadas mais tarde, deixando o trono grego como herança para o filho, Alexandre, que levaria o helenismo às mais remotas regiões do mundo conhecido.

As questões morais envolvidas na nova configuração de poder ateniense decorrente do envolvimento da cidade de Atenas na Guerra do Peloponeso foram, segundo acreditam muitos estudiosos, o mote de Filoctetes, tragédia de Sófocles escrita no ano de 409 a.C. Em linhas gerais, a peça teatral narra a chegada de Ulisses - o herói de "A Odisséia", de Homero - e Neoptólemo - filho do herói Aquiles, de "A Ilíada", do mesmo Homero - à isolada ilha de Lemnos, onde vive esquecido Filoctetes, o Maliense, filho de Poiante, abandonado anos antes pelo próprio Ulisses por conta de uma chaga devoradora que lhe supurava um pé e impedia-o de cumprir suas missões na guerra, além de, segundo as palavras do próprio personagem Ulisses, encher constantemente todo o acampamento com alaridos selvagens e agoirentos, aos gritos e gemidos. A ida dos dois homens àquela ilha inóspita, contudo, tem motivações maiores: Ulisses deseja tirar das mãos do velho e doente Filoctetes as armas de Héracles, semideus filho de Zeus, sem as quais, rezava uma profecia, Ulisses jamais destruiria Tróia. Para conseguir seu intento, Ulisses convence Neoptólemo, um jovem de coração nobre e repleto de honra e bons princípios, a enganar o velho Filoctetes, dizendo-se inimigo dele, Ulisses, no intuito de angariar a simpatia do execrado herói e usurpar-lhe as armas divinas.

Os leitores modernos de Filoctetes são levados diretamente a uma interpretação da tragédia à luz das questões éticas nela envolvidas: Filoctetes é o herói esquecido depois de tantos serviços prestados por conta de se tornar indesejável, inútil para os propósitos maiores do Estado, que por sua condição desperta piedade mas, ao mesmo tempo, teve o coração endurecido pelo rancor e tornou-se intransigente pelo próprio passar dos anos; Ulisses, de certo modo, parece retratar o poder constituído, que usa de todos os meios para atingir seus fins, ainda que isso aconteça por estratagemas cheios de torpeza e covardia, que procura disfarçar sob o nome de astúcia; Neoptólemo, por sua vez, é o vigor da juventude, ávido pela glória e pela fama, que carrega a honra e o sentimento do direito dentro de si mas é levado a agir contra a sua consciência por força dos desejos de uma instância maior de poder, convencido de que sua ação menos nobre será necessária para a consolidação do bem comum.

Na peça teatral de Sófocles, Neoptólemo engana Filoctetes, dizendo-se um inimigo de Ulisses e recebendo, por conta da amizade que o velho nutria pelo pai do rapaz, o nobre Aquiles, as armas de Héracles para com elas combater o herói desafeto dos dois. Contudo, Neoptólemo, que já no início da trama, ao receber a incumbência de Ulisses, reage negativamente à proposta de mentir para obter o que queria, no que é retrucado por seu líder, que diz ser a mentira uma arma válida quando se age para o nosso interesse.

FiloctetesQuais são os limites da conduta ética na política? Parece-nos que esta pergunta move-se nas mentes humanas desde os primórdios de nossa história. Ela está presente nessa tragédia tardia de Sófocles, uma das últimas por ele produzidas, já em sua velhice, e também está ali contida nas falas dos intelectuais que justificaram há alguns anos os escândalos que envolveram o partido governista e seu candidato à reeleição presidencial - bem como nas ações dos homens públicos que eles buscaram louvar com suas palavras diversionárias. A diferença está no pensamento dos nossos artistas e pensadores - um deles declarou, à época, que "não se faz política sem enfiar a mão em sujeira", outro disse mesmo que "a ética não é importante, quando os fins são nobres" - e naquele expresso por Sófocles como finalidade educativa de sua tragédia. Em Filoctetes, depois de revelar ao personagem-título a mentira que lhe contara, tendo já recebido do velho as armas lendárias de Héracles com as quais venceria Tróia, e convencido por Ulisses a abandonar naquela ilha a Filoctetes, o jovem Neoptólemo retorna ao encontro do amigo de seu pai e dá-se um final conciliatório para a situação trágica: surge o próprio Héracles, que promete a Filoctetes sua cura ao tempo que lhe ordena que acompanhe Neoptólemo até Tróia, já que ambos precisavam um do outro para que acontecesse a vitória e fossem cumpridos os interesses da coletividade e o destino daquela cidade. Os meios escusos de Ulisses, a sua astúcia tão presente já na Odisséia, mostrou-se desnecessária diante de outros valores maiores como a honra, o compromisso com a verdade, a piedade e a compaixão - em outras palavras, a empatia para com o semelhante e a máxima de não impor ao outro uma dor que a si mesmo não se entregue.

Os fins, por mais nobres que possam parecer, jamais podem justificar a torpeza de certos meios usados pelos que se valem dessa filosofia tão afeita aos ditadores e déspotas ao longo da história dos homens. O dramaturgo de Epidauro, por meio de seu talento na composição da tragédia, deixou aos seus contemporâneos a mensagem de que jovens e velhos, juventude e tradição, precisavam unir-se para que se cumprissem os desígnios de Atenas, mesmo sob o domínio de uma casta despótica como era o Partido Aristocrático que ascendeu ao poder durante os difíceis anos da Guerra do Peloponeso. Diante dos desmandos que atualmente vivemos em nosso país, a mensagem de Sófocles parece mais atual e necessária que nunca.

*Texto de Robertson Frizero - escritor, professor de Criação Literária e Mestre em Letras pela PUCRS.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Com a palavra... DAN BROWN

Dan Brown
"Eu adoraria que todos amassem o que eu faço, é claro. Lógico que as críticas ruins machucam. Mas aprendi que aceitação e apreciação universal são simplesmente objetivos nada realistas. Se um crítico destrói meu livro, digo simplesmente a mim mesmo: 'Puxa, minha escrita não é muito do gosto dele'. E isso é o mais chateado que me permito ficar. Porque ao mesmo tempo vou ler uma resenha de alguém dizendo: 'Meu Deus, eu me diverti tanto lendo esse livro e aprendi tanto'. Aprendi cedo a não dar ouvidos a nenhum tipo de crítica - nem das pessoas que amam o seu livro, nem das pessoas que o odeiam. Se você dá ouvidos aos que te amam, você fica preguiçoso. Se acredita nas palavras dos que te odeiam, você fica...talvez intimidade, ou seja lá que outro sentimento possa surgir, mas você não escreverá mais, de qualquer forma. O melhor é colocar as viseiras, escrever o livro que você gostaria de ler e torcer para que outros tenham o mesmo gosto que você. É realmente simples assim."

- Dan Brown é um escritor estadunidense de livros de suspense. Bem sucedido em seu gênero, é um dos vinte autores que mais venderam livros em toda a história da literatura. Seu mais recente romance, Inferno, será tema do terceiro encontro do Clube de Leitores da Sapere Aude! Livros, que ocorrerá no dia 17 de julho de 2013, às 19h30 - entrada franca mediante inscrição prévia por e-mail.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Meu livro preferido é... MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS

MACHADO DE ASSIS,J. M.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
(Ed. Globo)
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é um livro que recebi pelo correio de um brasileiro desconhecido, com um bilhete que dizia 'Você vai gostar', e que só li porque tinha poucas páginas. Fiquei surpreso com a leitura, ao mesmo tempo divertida e encantadora. Não podia acreditar que Machado de Assis viveu há tanto tempo. Você poderia pensar que ele escreveu o livro ontem, ele é tão moderno e engraçado. É um trabalho muito, muito original, que fez soar algo dentro de mim, da mesma forma que O Apanhador no Campo de Centeio. Ambos falam de temas que eu aprecio, com perspicácia e sem sentimentalismo."


- Woody Allen é um dos mais celebrados cineastas da atualidade. Ator, comediante, dramaturgo e escritor renomado, foi agraciado com nove Oscars, tanto como diretor quanto como roteirista.  

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A Senhora Hale e os verdadeiros criminosos

Susan Glaspell
Uma das fundadoras do Playwright's Theatre, também conhecido como Provincetown Players, Susan Glaspell (1876-1948) representou uma revolução no teatro estadunidense. Entre os anos de e 1922, os Provincetown Players produziram e encenaram novos textos de dramaturgos como Eugene O'Neil e da própria Glaspell, cujos textos, até hoje encenados com interesse nos Estados Unidos da América, ganharam à época repercussão maior que as peças teatrais do próprio O'Neil, hoje tido como um dos maiores dramaturgos estadunidenses. Em seu país, onde existe uma Susan Gaspell Society, dedicada ao estudo e divulgação da obra de Glaspell, a autora é conhecida não só por sua produção para o teatro, mas também por seus contos e romances. Mas foi com um texto teatral que ela foi condecorada com um prêmio Pulitzer em 1931 - Alison's house.

Os temas das peças teatrais de Susan Glaspell giram em torno de questões regionais, sobretudo de sua Iowa natal, e também das tensões e conflitos entre homens e mulheres. Não raro, suas personagens são pessoas em busca de um sentido para suas vidas, algo que se repete em sua obra em prosa. Não raro, Susan Glaspell usava como inspiração para seus trabalhos as histórias que conhecera e investigara durante os anos em que fora jornalista do Daily News.

Bagatelas (Trifles - 1916) é, talvez, sua peça teatral mais divulgada, não só por conta de sua temática feminista, mas sobretudo pela maestria de composição da trama e pela profundidade a que a dramaturga chega na discussão da condição feminina em um texto relativamente curto, que encenado não deve ultrapassar meia hora de espetáculo. O sucesso do texto foi tamanho - e o resultado tão satisfatória pra Glaspell - que a autora transformou a história em um conto intitulado a jury of her peers, publicado no ano seguinte e que se tornaria um de seus textos mais conhecidos em prosa. A situação inicial de Bagatelas, livremente inspirada pelo assassinato de um certo John Hossack cuja história Glaspell cobrira como jornalista, é relativamente simples: três homens - um promotor, um delegado e um fazendeiro - chegam a uma fazenda onde, no dia anterior, ocorrera um assassinato. Duas mulheres acompanham-nos: a Sra. Peters, esposa do delegado, e a Sra. Hale, esposa do fazendeiro que foi o primeiro a tomar conhecimento do caso e está lá na condição de testemunha. Susan Glaspell usa o ambiente da peça - a cozinha desordenada da fazenda - para estabelecer as diferenças de percepção entre os sexos e, sobretudo, para expor a condição feminina e os subterfúgios usados pelas mulheres para sobreviver em um mundo de opressão: enquanto os três homens vasculham a casa em busca de provas que incriminem a esposa do fazendeiro assassinado - morto na própria cama, enforcado enquanto dormia -, as mulheres vão aos poucos revelando a si mesmas - e ao público - as razões pelas quais a Sra. Wright teria matado seu esposo.

A genialidade de Glaspell está em trazer esses temas todos por meio das ações das personagens e não de um discurso panfletário colocado em suas falas. As mulheres descobrem que a Sra. Wright tinha uma vida de opressão e violência através dos pequenos detalhes que vão coletando naquela cozinha desarrumada, aparentemente fruto do desleixo de uma dona de casa pouco cuidadosa. A Sra. Hale conhece a esposa do homem assassinado, uma mulher que um dia fora a jovem feliz que cantava no coro da igreja, e que depois do casamento vivia enclausurada em sua fazenda, isolada do mundo, alheia mesmo às tarefas comunitárias nas quais as mulheres uniam forças e eram a única forma possível de compartilhar suas experiências e sofrimento em um mundo dominado pelos homens. São os detalhes pequenos, as "bagatelas que as mulheres adoram discutir" - na fala do Sr. Hale ao desqualificar as opiniões da esposa - que darão a elas as certezas sobre a culpa da Sra. Wrigth e seus motivos. São as coisas pequenas e tão femininas - o "quilt" inacabado, a gaiola rompida e o pássaro morto, o vidro de compota e o pão por fazer - e não a lógica masculina e policialesca - com sua busca por pistas grandiosas da autoria do crime - que revelam o assassinato para o público. Mas não se trata, aqui, apenas de mostrar como as mulheres são mais detalhistas e cuidadosas que os homens. Glaspell evidencia a pouca importância que os homens davam ao universo feminino e que os tornava incapazes de perceber a verdade além das aparências. Um desprezo pelos sentimentos das mulheres que levou o Sr. Wright a sufocar a esposa - que o mataria, literalmente, dessa mesma forma - e segue impedindo muitos homens de perceber o quanto se pode crescer e aprender na convivência igualitária com as mulheres.
 
*Texto de Robertson Frizero - escritor, professor de Criação Literária e Mestre em Letras pela PUCRS.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Um livro que é um estouro!

Crianças são curiosas por natureza, mas é difícil imaginar pais tranquilos o bastante para presentear seus filhos com este Experimentos Atômicos para Meninos, totalmente ilustrado e com explicações detalhadas...

Com a palavra... SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

"Tive uma relação muito profunda com o João Cabral [de Melo Neto] e com as coisas que ele procurava. Eu não pensava muito nisso. Nuca tive muita teoria. Fui sempre uma pessoa muito antiteórica. Mas encontrei muita coisa. Quando encontrei João Cabral, ele disse-me assim: eu tenho muita admiração por si, porque você é uma poeta que usa muito substantivo concreto. (...)

Eu já tinha lido o Manuel Bandeira. Já tinha lido vários poetas brasileiros. É que nesse tempo havia uma relação muito mais próxima, sabe? Porque o mundo não estava tão confuso como agora. Sai tanto livro. Sai tanta confusão. Agora um poeta se projeta, fala-se de sua obra, não é porque escreveu livros bons. É porque tem uma boa pessoa encarregada de sua propaganda."

- Sophia de Mello Breyner Andresen foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX e a primeira mulher a receber o mais importante prêmio literário da língua portuguesa - o Prêmio Camões, em 1999. A data de hoje marca os nove anos de morte da escritora. O trecho acima foi extraído de uma entrevista sua a Maria Maia, publicada no Jornal de Poesia.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Meu livro preferido é... JANE EYRE

BRONTË, Charlotte.
JANE EYRE
(Ed. BestBolso)
"Minha mãe, que é uma atriz brilhante [Blythe Danner], começou a ler Jane Eyre para mim quando eu tinha provavelmente nove ou dez anos de idade. Foi o primeiro livro adulto no qual eu mergulhei de cabeça. Há uma cena na qual Jane é uma criança vivendo com seus parentes, e um primo mais velho começa a torturá-la. Ela luta contra ele, mas acaba sendo trancada em um quarto como forma de punição. Eu senti a frustração dela. Quando li novamente o livro na escola, eu me senti tocada por outras partes do livro — em especial as cenas com Jane já como a jovem governanta recém-chegada na mansão de Rochester e ainda muito insegura dela mesma."

- Gwyneth Paltrow é uma das mais celebradas atrizes estadunidenses de sua geração. Entre outros prêmios, ganhou o Oscar de Melhor Atriz em 1999 por "Shakespeare Apaixonado", ano em que concorreu nessa categoria com a brasileira Fernanda Montenegro. É uma leitora voraz, segundo relatam seus amigos.