quinta-feira, 22 de maio de 2014

Um modo criativo de conhecer São Paulo

por Diego Petrarca

Fabrício Corsaletti

Em 2013 o escritor e poeta Fabrício Corsaletti lançou pela Companhia das Letras o livro Quadras Paulistanas, uma reunião dos poemas em 4 versos publicados originalmente na Revista da Folha, em que o autor manteve uma coluna semanal durante 3 anos. O livro conta com um diálogo entre palavra e imagem com a contribuição do artista Andrés Sandoval, que ilustrou as quadras de acordo com o enunciado dos poemas além de sugerir um acabamento gráfico diferente para a edição. 

O autor não privilegia o poema no trabalho com a linguagem, ou melhor, privilegia de outro modo, trabalhando aspectos do registro do cotidiano numa linguagem simples, com vocabulário básico, mas acertando em achados de som e sentido que aguçam o interesse pela leitura, ora tendendo para uma narrativa, ora para uma bela crônica poética. Quadras Paulistanas recupera a forma de quadra fazendo um  texto breve com as surpresas semânticas nas dobras de cada frase. A poética paulistana encravada no cotidiano da cidade promovendo uma aproximação entre poesia e crônica, entre poesia e reportagem, entre poesia e imagem das ruas. É um modo criativo de conhecer Sampa e o livro serve também como um guia turístico anticlchê nesse retrato subjetivo em que o autor se propõe sobre a megalópole. Vibrei com a proposta e com a leitura.


Minissaia jeans e botas
de caubói - pernas douradas
sim, era outono em Paris
ela, minha namorada
*

Nada alivia esta dor -
terapia, prece, emplastro -
de ter sido quase um pai
e agora ser ex-padrasto
Nunca gostei de montanha
sempre impliquei com Perdizes
no entanto, foi nesse bairro
que um dia fomos felizes

Rica, se diz cineasta
só fala em revolução
mudanças? não, não aceita
nem o horário de verão

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Corsaletti falou-nos um pouco sobre o seu processo criativo para Quadras Paulistanas:

O que motivou o formato do poema em quadra para compor a série do livro?
Minha coluna quinzenal na revista "São Paulo", do jornal folha de São Paulo. Com a brevidade das quadras, descobri que poderia tratar de muitos assuntos, assuntos sobre os quais talvez eu não tivesse mais do que 4 linhas pra falar.

No seu ponto de vista, além do aspecto sonoro e da brevidade, quais outros aspectos da quadra são propícios a uma função poética de linguagem?
A rima é algo que me atrai. E ela se sobressai, ganha uma força enorme na quadra.

Você concorda que a quadra é um modo de aproximar a poesia do leitor comum? (até pelo histórico popular da tradição da forma) e também pela estrutura lúdica, sonora, com um apelo comunicativo, a ponto do poema/quadra soar próximo a um slogan publicitário?  
Sim. Mas não vejo a quadra tão próxima do slogan publicitário. Penso que tem mais a ver com a infância das pessoas, com o batatinha quando nasce e coisas assim. 

Em Quadras Paulistanas o cotidiano é um tema relevante, do mesmo esse tema é recorrente em sua poesia de um modo geral. Quais outras marcas da sua poética estão presente também em Quadras Paulistanas?
Não sei. Não me preocupo com isso. E acho que um artista não deve avaliar o próprio trabalho. Essa é a tarefa do leitor, do crítico.


* Diego Petrarca é um dos mais profícuos e talentosos poetas da nova geração no RS, com diversas publicações no gênero. Professor de literatura e redação, ministra uma Oficina de Poesia na Sapere Aude! Livros.

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