segunda-feira, 2 de junho de 2014

Meu livro preferido é... O ESTRANGEIRO

"Na high school estudamos literatura, e quando se estuda literatura, temos que ler livros. É obrigatório. Por que? Porque a juventude de nosso caloroso país prefere, quase sempre - e eu também preferia - gastar seu tempo em outras coisas, e embora eu já lesse um bocado, preferia escolher eu mesmo os livros que eu iria ler, e sentia uma forte resistência à leitura daqueles livros que algum comitê do Ministério da Educação em Jerusalém nos propunha. Então, não foi surpresa que com O Estrangeiro, de Albert Camus, eu tivesse a sensação de que tinha encontrado um tesouro. Esse livro curto - minha versão tinha apenas cento e cinquenta e oito páginas -, pequeno o bastante para caber na palma da mão de um adolescente, parecesse a escolha certa para um compromisso importantíssimo - ler um livro para o exame de admissão.

Eu abri o livro e li a primeira frase: "Mamãe morreu hoje. Ou talvez, ontem; não tenho certeza." E, ao contrário de Mersault, que nos conta a história, eu posso dizer hoje com muita certeza que essa frase é a mais importante que eu já li. Com um pouco menos de certeza, posso escrever que é também a mais importante que jamais lerei.

Terminei o livro em poucas horas. Fiquei fascinado por ele, e não sabia ao certo a razão. Nenhum livro antes ou depois deixou-me com a sensação de flutuar em um mundo estranho, ainda que meu mundo. Nas semanas que se seguiram à sua leitura, eu peguei o ônibus de número 24 da Ramat Hasharon até a biblioteca central da Universidade de Tel Aviv e li tudo o que encontrei sobre o livro e seu autor, que haviam se tornado parte inseparável de minha vida.

Em poucas ocasiões no quarto de século que se passou desde então, eu perguntei a mim mesmo se eu deveria voltar atrás e reabrir essa porta. E a única resposta que eu tive foi a de que há portas e sóis que nos fascinam independente de nossa vontade."

David Zonsheine
* David Zonsheine é escritor e ativista. Fundador do grupo Courage to Refuse, um grupo de reservistas do Exército Israelense que se recusam a servir em territórios ocupados, é também coordenador do B’Tselem − Centro Israelense de Informações sobre Direitos Humanos nos Territórios Ocupados.

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