quarta-feira, 30 de abril de 2014

CRÔNICA DA SEMANA: Recomendações

Não pegue sereno.
Não ande descalço.
Não brinque com fogo.

Não pise na grama.
Não pise na bola.
Não cuspa no chão.

Não dê esmola nos sinais.
Não alimente os animais.

Não esqueça de apagar a luz.
Não esqueça de pagar o carnê em dia.
Não esqueça de colocar o cinto de segurança.

Não fume.
Não buzine.
Não entre.

Não perca a promoção!
Não deixe de assistir!
Não fique fora dessa!

Não fale com estranhos.

Antes de dirigir, não beba.
Antes de ligar, leia o manual.

Antes de entrar,
verifique se o mesmo
encontra-se neste andar.

Vá pela sombra.
E não dê ouvidos ao que essa gente fala.

*Robertson Frizero é escritor, tradutor e dramaturgo. Coordena e ministra oficinas de Criação Literária na Sapere Aude! Livros, além de coordenar o Clube de Leitores da livraria. 

**Neste espaço, semanalmente, serão publicados textos de autoria dos clientes e leitores da Sapere Aude! Livros. Veja como participar aqui

terça-feira, 29 de abril de 2014

Com a palavra... GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ

"Tenho a impressão de que comecei a ser escritor quando me dei conta de que eu não servia para nada. Agora, não sei se desgraçadamente ou afortunadamente, creio que é uma função subversiva, não é mesmo? No sentido de que não conheço nenhuma boa literatura que sirva para exaltar valores estabelecidos."

- Gabriel Garcia Márquez foi um dos maiores escritores de língua espanhola e o mais destacado representante da América Latina dentre os nossos romancistas. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, sua obra revolucionou a literatura latino-americana. Faleceu em abril de 2014.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Como colaborar com o blog da Sapere Aude! Livros

Os clientes e amigos da Sapere Aude! Livros estão convidados a colaborar com o nosso blog. O processo é bem simples: basta enviar para o endereço info@sapereaudelivros.com.br um texto que possa ser publicado em uma das seções abaixo: 

MEU LIVRO PREFERIDO - todas as segundas-feiras, publicamos depoimentos de clientes e amigos da Sapere Aude! Livros sobre seus livros preferidos; as postagens vem acompanhadas de breve currículo e fotografia do autor.

LIVROS ESSENCIAIS PARA PESSOAS NEM TANTO... - todas as quintas-feiras, publicamos uma coluna de humor no qual o foco são os livros cujos títulos ou ilustrações sejam bizarros, divertidos ou insólitos. Mande-nos a imagem da capa e uma legenda sugerida. 

LEITURAS OBRIGATÓRIAS - todas as quintas-feiras, publicamos resenhas de livros considerados relevantes no panorama da literatura universal. Os textos devem apresentar um breve sumário das obras e uma análise de seu conteúdo e importância. A coluna é assinada por Robertson Frizero, mas aceita colaboradores.

CRIAÇÃO LITERÁRIA - todas as sextas-feiras, publicamos textos sobre o fazer literário, seja explicando um gênero literário ou trazendo dicas sobre a escrita criativa. Os textos deverão versar sobre esses temas.

VOCÊ SABE?!? - todas as sextas-feiras, publicaremos textos sobre curiosidades do mundo das artes. A coluna é assinada por Mires Batista Bender, mas aceita colaboradores.

COLUNISTAS - envie ao curador do blog seus textos, com um breve currículo e fotografia de rosto; caso haja interesse, entraremos em contato. Esses textos serão publicados na coluna Crônica da Semana, toda quarta-feira, aberta a todos os colaboradores.

Os textos submetidos passarão pela análise do curador do site e comunicaremos aos autores quando de sua publicação. Sugerimos que os candidatos visitem o blog e observem como estão sendo escritos os textos para as seções indicadas. Na coluna ao lado, há uma listagem das seções.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Com a palavra... CLARICE LISPECTOR

Clarice Lispector
"Bem, escrevi várias coisas antes de publicar meu primeiro livro. Eu escrevia para revistas — contos, jornais. Eu ia com uma timidez enorme, mas uma timidez ousada. Eu sou tímida e ousada ao mesmo tempo. Chegava lá nas revistas e dizia: “Eu tenho um conto, você não quer publicar?” Aí me lembro que uma vez foi o Raimundo Magalhães Jr. que olhou, leu um pedaço, olhou para mim e disse: “Você copiou isso de quem?” Eu disse: “De ninguém, é meu”. Ele disse: Você traduziu?” Eu disse: “Não”. Ele disse: “Então eu vou publicar”. Era sim, era meu trabalho."

- Clarice Lispector é uma das mais conhecidas escritoras brasileiras. Nascida na Ucrânia, em uma família judia, e trazida para o Brasil ainda bebê, cresceu em Recife. Sua literatura é considerada única no panorama da literatura nacional. O New York Times classificou-a certa vez como o Franz Kafka da literatura latino-americana.  Além de escritora, trabalhou como tradutora de obras de Edgar Allan Poe, Oscar Wilde e Anne Rice. O trecho acima transcrito foi extraído de sua última entrevista, concedida ao jornalista Júlio Lerner, da Tv Cultura, em 1977 - veja aqui o vídeo na íntegra.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Meu livro preferido é... O MESTRE E MARGARIDA

"O Mestre e Margarida, de Mikhail Bergakov, é um grande livro sobre a luta do amor para triunfar sobre as forças do mal e a magia negra. É simplesmente o livro mais fantástico que eu já li. Li uma vez e reli quase que imediatamente depois de terminá-lo." 

- Daniel Radcliffe é um dos mais famosos atores britânicos de sua geração, internacionalmente conhecido por ter protagonizado a franquia de filmes "Harry Potter".

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O inferno e as histórias longe do céu



por Gabriela Silva

Daniela Langer
 No inferno é sempre assim- e outras histórias longe do céu, é o nome da coletânea de contos de Daniela Langer. O livro se divide em duas partes: “histórias longe do céu” e “no inferno é sempre assim”, num total de onze narrativas. A obra foi escolhida como primeiro lugar do Prêmio Maíra de Literatura 2012.
“Morrente” é a primeira história, uma pequena profecia: um dia a rotina tomara conta da vida de um casal, nas suas ações, nos seus objetos e fatidicamente nos seus sentimentos.
“Às moscas” é uma narrativa sobre a miserável existência de um homem. Tendo como epígrafe o poema “O bicho” de Manuel Bandeira, o conto mostra a desfavorável luta de um homem faminto com a imagem de uma mosca numa vitrine de doces. À mosca, a fartura; ao homem, a fome corroedora até do juízo.
Dedicado a Caio Fernando Abreu, o conto “para alguém que viu partindo” é sobre a relação de isolamento e necessidade que vivem duas pessoas num relacionamento. Entre os desejos impostos pela vontade humana e a fragilidade de um indivíduo frente ao outro, despem-se as mais singelas intenções.
E um leitor de Cortázar não deixa de sorrir ao começar a leitura de “como que fora do tempo”, quarta narrativa da primeira parte do livro.  Uma lembrança que se desenrola como uma casca de pêssego; no caldo da fruta, o fantástico de Wells e Lugones. Imagens que se complementam como num sonho exótico em fragmentos de tempo que abrangem anos ou apenas o curto momento de acendimento de um fósforo.
Morte, memória, medo e reflexo são as ideias centrais do conto “das horas que se derramam”. O protagonista encontra no reflexo de um vidro a memória que se estende até a morte da mãe.  O percurso pela casa vazia é a distância entre o hoje e a juventude.
“Em todas as portas” é um conto sobre o fim. Um relacionamento que é terminado por telefone, a necessidade da busca de explicações, o passado desbotado, o corpo tentando acompanhar a mente que rápida busca em seus arquivos as exigidas justificativas que o abandonado precisa. Ruas, sons, cheiros, cores e pessoas. A nitidez perdida ao desenfreado passo para algum lugar.
A segunda parte da obra é composta por cinco narrativas, começa com a história de Marianna, uma menina que vive uma adolescência do modo mais tranquilo possível: verão com a família, na praia, brincando com as amigas e aproveitando os dias de sol e chuva que compõem a vida. A chegada do primo Lucas, com seus cabelos revoltos e o dragão tatuado nas costas, é que muda a atmosfera da temporada de estio. Descobriu-se apaixonada; primeiro, pela chegada do primo que ela havia visto poucas vezes. Depois, pelo primo, pela beleza, pela ideia toda que era ele. Mas como a morte é irmã do sono, num sonho de mar e sol, o primo era jogado à areia pelas mãos de outros que o tentaram salvar, “lambido de sol” jazia o primo e seu dragão à beira do verão de Marianna. É essa a história contada em “primo Lucas”.
“No fundo das metáforas” é um conto sobre todas as coisas que pensamos ser de um modo, ditas de outro e vividas de uma terceira e inusitada maneira. Um jogo de futebol, uma chuva que enlameia tudo e um bando de meninos que para se distraírem não se importam de encharcar as roupas e voltar espirrando pra casa. Mas entre um chute e uma goleira, entre uma chuteira e a poça de água da chuva o mundo e o tempo correm a desgosto da vontade da gente.

“No inferno é sempre assim” é uma narrativa permeada de uma tristeza que não se dissolve: um menino e os enganos de um dia quente de verão. O cotidiano inexpressivo e a vontade amarga de vender todos os doces da caixa que carregava consigo é o que move o protagonista ao desfecho do conto, que justifica em cada palavra seu titulo.
Imagens que quase podemos tocar é uma boa definição para o conto “a metade do um”. Nele, a construção narrativa não é apenas densa como engendramento de personagens e de ações, mas como espaço físico. Uma fotografia em que as cores e as sensações de corpos e temperaturas são construídas como se pudessem interagir com o leitor.
A dor e o prazer de encontrar alguém que há tempos não víamos. A estranheza de encontrar por acaso alguém que deixamos não por acaso, mas com toda a certeza da ausência e do adeus. Perceber seu rosto e exercitar a arqueologia em suas rugas e no que o tempo gravou na pele. Essas ações compõem o quadro do conto “A arqueologia das práticas” em que duas personagens se encontram num supermercado em gôndolas de frutas e gavetas de memória.
O que torna esse livro tão interessante e reconhecido? Uma particularidade que é também virtude: o poder da construção de imagens, de símbolos. Daniela Langer cria um universo particular de metáforas, de antessalas de referências, de preferências de leitura e de criação. É seu gênero escolhido o conto, é sua qualidade estética o imagético engendramento de seres e ambientes, de vidas e mortes que ela oferece ao leitor. Cada fragmento de texto criado pela autora é único, seja na escolha verbal apurada, repleta de delicadezas, mesmo quando se refere a dor, a miséria e a morte, ou ainda nas estratégicas imagens que elabora e que ficam reverberando na mente do leitor.

*Gabriela Silva é doutora em Letras pela PUCRS, professora de Literatura e ensaísta. É uma das coordenadoras da Breviário Cursos e do Sarau das Seis.