sexta-feira, 31 de outubro de 2014

VOCÊ SABE?!?... O Partenon Literário

por Mires Batista Bender
Centro de Porto Alegre retratado por
Virgílio Calegari no final do século XIX, início do XX
No ano de 1869, as grandes discussões sobre literatura no Rio Grande do Sul eram orientadas pelo grupo do “Partenon Literário”, Sociedade que surgiu em Porto Alegre aberta aos intelectuais da província de São Pedro.


Este grupo de romancistas, poetas, professores e jornalistas movimentou o panorama cultural gaúcho, chegando a se envolver em questões da vida social como a luta aberta contra a escravidão. A sociedade patrocinou conferências, debates e cursos de alfabetização de adultos e inaugurou uma biblioteca dedicada à filosofia, história e literatura. O grupo também produziu uma revista, que seria o mais importante veículo de circulação do debate cultural gaúcho do período. Fundou, junto com sua revista, uma “Comissão de crítica”, pois entendia conveniente estimular entre os próprios agregados o gosto pelo ensaio crítico. Contava com a liderança do maior romancista gaúcho do momento, Caldre Fião, que já havia publicado a Divina pastora (1847) e O corsário (1851). Animado pelo professor Apolinário Porto Alegre, seu mentor, o grupo inaugurou o momento de reflexões mais profundas sobre os temas da literatura e estabeleceu um circuito que fez circularem as ideias e as obras dos autores gaúchos.

É importante notar que a sua atuação não se restringe ao tempo de efetivo funcionamento da sociedade. Suas atividades neste período – de 1869 até 1879 – iriam produzir reflexos nas realizações culturais da região mesmo depois de seu encerramento, tendo merecido de Flávio Loureiro Chaves o reconhecimento como a melhor expressão da vida mental do Rio Grande do Sul até quase o final do século XIX.


Os textos escritos pelos pioneiros da crítica literária gaúcha têm em comum o desejo de preservar o ideal romântico de nacionalidade, o qual visava apropriar-se da natureza como o grande símbolo para representar o local e estabelecer um modelo original, que não permitisse a imitação da literatura portuguesa. As posições defendidas pelo grupo dos partenonistas reafirmaram o interesse do Rio Grande do Sul na participação dos temas nacionais daquele momento. A revista do Partenon Literário foi o fórum para estabelecer os elementos a serem aproveitados pelos escritores como bases para forjarem a literatura gaúcha, inspirando-se em temas enfatizados pela crítica romântica: natureza, história, lendas e costumes, mas tornando literária a paisagem da campanha e fazendo dela seu palco.

Os textos dos nossos críticos e poetas formadores põem em relevo características, que atualmente podem ser notadas graças ao nível do debate que se instalou com o Partenon Literário e seus sucessores. Trabalhos como de Apolinário Porto Alegre, por exemplo, na análise que faz da obra de Alencar; da crítica de Alcides Maya, observador atento dos problemas sociais da campanha, que põe em discussão, pela primeira vez, a consciência social rio-grandense e de João Pinto da Silva, com quem a crítica literária local começa a ganhar a consistência da análise do objeto. Nomes que refletem um pensamento em nada “provinciano”, e sim de mentalidade aberta ao novo. A fundação da Sociedade Partenon Literário marcou o ano de 1869 como a data “definitiva” da história da literatura gaúcha.

Após um longo período de afastamento, o Partenon Literário reiniciou suas atividades em 1997 e, nos dias de hoje, continua ativo e conta com cerca de 150 sócios entre poetas, professores, artistas plásticos, jornalistas, músicos, atores e juristas. A Sociedade realiza uma série de palestras, saraus, lançamentos de livros e outras ações envolvendo a discussão dos atuais anseios e tendências da literatura e da sociedade em geral, seguindo, assim, em sua vocação de proliferar a cultura.



* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Ensaio sobre a rotina: A SENHORA PERFEITINHA vai à Feira



Todos os seus sonhos se realizaram. Você está casada - amigada, enamorada ou qualquer variante da categoria - e agora carrega seu bebê no colo. Um momento lindo, tão esperado e repleto de emoções. Tudo perfeito, cor-de-rosa e azul-bebê, não fosse ela, a grande vilã do "e foram felizes para sempre": a vida real.

Em 'Senhora Perfeitinha', as situações tragicomicas da rotina 'mãe-esposa-mulher' são escancaradas em textos divertidos e rápidos. Da pra ler entre a troca de fralda e a mamada, entre deixar as crianças na escola e sair correndo para a reunião com o chefe ou até no banheiro, antes de alguém bater na porta com o habitual "manhê, você está aí?".

O clímax, você entenderá no final, mas eu posso adiantar pra matar a curiosidade: não, não acontece só na sua casa!


Isso é apenas um aperitivo: o prato principal será servido no próximo dia 15 de novembro, às 18h, no pavilhão de autógrafos da Feira do Livro de Porto Alegre. É a estreia de nossa querida cronista Nurit Gil na Literatura: A Senhora Perfeitinha e outros textos reúne crônicas diversas sobre a vida da mulher moderna, bem aos moldes dos textos que têm encantado os leitores do blog da Sapere Aude! Livros em sua coluna semanal Ensaio sobre a rotina. O convite está feito: apareça lá para prestigiar nossa cronista. E quem desejar já encomendar o seu exemplar do livro, pode enviar um e-mail para a Sapere Aude! Livros, parceira da Buqui, editora que publica o livro de Nurit Gil: info@sapereaudelivros.com.br.



*Nurit Gil é uma paulista nos pampas gaúchos, formada em publicidade, mas nunca tendo exercido a profissão. Cronista de corpo e alma, a autora já trabalhou com vendas, marketing e foi mãe em tempo integral. Uma paixão? Nurit gosta de observar gente, escutar conversas, de preferência em ambientes abertos e com uma xícara de café. Sem chantilly. Semanalmente, publica nesta coluna suas impressões do cotidiano porto-alegrense e da vida da mulher moderna.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Você sabe?!?... O FANTASMA COM O MAIOR NÚMERO DE APARIÇÕES



por Mires Batista Bender
Gaston Leroux
O Fantasma da Ópera é a peça teatral com o maior número de execuções na história da Broadway. O musical de Andrew Lloyd Webber estreou em 1986 e estima-se já ter sido visto por mais de cem milhões de pessoas em cerca de sete mil e quinhentas performances. Seu texto original é adaptado da obra prima do escritor francês Gaston Leroux, Le fantôme de l’opéra, publicado em 1910.

cena do musical de Andrew Lloyd Weber
Num enredo que mescla romance, música, mistério, suspense, horror e tragédia, apresenta-se o “fantasma”, assombrando o teatro com sua história de amor e mortes. A trama se passa no século XIX e tem como cenário  o monumental edifício da Ópera de Paris, onde uma série de acidentes deixa artistas e funcionários com a impressão de estarem habitando um “castelo” mal assombrado. Na verdade, o fantasma é o rancoroso e atormentado Erik, que vive nos subterâneos da ópera, tentando esconder de todos sua deformidade física. Esse homem apaixona-se pela bela cantora principal Christine Daaé e se torna um obstáculo poderoso entre a moça e seu namorado, o Visconde Raoul de Chagny. A jovem, que no início o julgava um anjo protetor, passa a sofrer com o fascínio que Eric lhe provoca e torna-se cada vez mais vítima de sua dominação. A trama tem seu ápice quando Erik sequestra Christine e a conduz aos dutos subtarrâneos do teatro, onde vive, no intuito de obrigá-la a casar-se com ele. Quando a jovem, abnegada, o aceita para evitar sua fúria vingativa, ele se comove e a deixa ir.
"The Phantom of the Opera" (1925)
O romance já foi inúmeras vezes transposto para os palcos e para as telas dos cinemas, com grande sucesso. A primeira versão de O fantasma da ópera para o cinema foi em um filme mudo, em preto e branco, realizado em 1925 pelos estúdios Universal.

A peça do renomado compositor e produtor musical britânico, Andrew Lloyd Webber é considerada a maior atração teatral de todos os tempos.


* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Ensaio sobre a rotina: TEMPERO À PARTE

 por Nurit Gil



Cada pessoa utiliza seu método peculiar de relaxamento. Não vou criticar os adeptos do Rivotril sublingual afinal, eu mesma utilizo métodos pouco ortodoxos para deixar os pensamentos em slow motion - depois de abandonar anos de vida fumante, não abro mão da boa e velha dose etílica noturna. Mas acho interessante observar as formas mais criativas que cada um encontra para separar as obrigações do lazer.

Tem que mateie. Sim, verbo: eu mateio, tu mateias, ele toma chimarrão. Há os que espantam o stress levantando centenas de quilos em troca de suor e músculos. Tem quem leia ou escreva. Os que vão ao cinema e escolhem o filme (prática que desconheço há anos). Já ouvi falar de gente que só com sexo recreativo. Quem faça compras, escova, massagem. E os que utilizam métodos ainda menos ortodoxos que os meus.

Conheci uma moça que precisava sair do trabalho e apaixonar-se antes de voltar da casa. Batia o cartão e passava a buscar uma paixão. Lembro da noite em que apaixonou-se por uma escritora baiana, em plena sessão de de autógrafos na livraria da Alameda Santos. Entrou, pediu uma dedicatória, leu o livro inteirinho, voltou para casa e dormiu arretada. Às vezes, tinha que dar explicações ao marido:

- Onde estava até esta hora?

- Procurando paixão.

Vícios são vícios e ele a aceitava como sempre fora, apesar de certa frustração. Ela já tinha se apaixonado por tulipas holandesas, café gourmet do serrado, mostra de cinema russo e pasta americana para cupcakes.
Uma vez, saímos para colocar o papo em dia. Entardecia. A certa altura, eu já bocejava e cogitava pedir a conta, mas ela ainda estava aflita em sua busca. Releu o cardápio, procurou algo nas mesas ao lado. Nada. Saímos pelo quarteirão, uma companhia de teatro alternativa fazia uma performance no farol. Olhei entusiasmada para minha amiga: sem calafrios. Na esquina, o lançamento de um empreendimento imobiliário. 'Quer parar?'. 'Os sinos não tocaram'. Desistimos. Ela voltou para casa, já pronta para passar a noite em claro, com os pensamentos a mil. Mas neste dia, o marido a esperava na sala. Seu coração disparou de alegria e alívio: estava apaixonada, incrivelmente seduzida.

- Precisamos conversar.

Ela, louca por ele, escutou a história. Ele, por um viés da vida, conheceu uma escritora. Baiana. E estava apaixonado. Ela ofereceu cozinhar tapioca. Não era isso. Com acarajé e dendê. Não era fugaz. E ele partiu. Já faz alguns anos. Ela buscou tratamento, recuperou-se de seu irônico destino e hoje não corre mais riscos. Sai do trabalho e segue direto para casa. Cozinha, assiste a novela e antes de dormir, um relaxante sublingual. Sem café do serrado, cinema russo ou dendê. Para que a vida siga como deve ser.


*Nurit Gil é uma paulista nos pampas gaúchos, formada em publicidade, mas nunca tendo exercido a profissão. Cronista de corpo e alma, a autora já trabalhou com vendas, marketing e foi mãe em tempo integral. Uma paixão? Nurit gosta de observar gente, escutar conversas, de preferência em ambientes abertos e com uma xícara de café. Sem chantilly. Semanalmente, publica nesta coluna suas impressões do cotidiano porto-alegrense.