por Mires Batista Bender
Centro de Porto Alegre retratado por Virgílio Calegari no final do século XIX, início do XX |
No ano de 1869, as grandes discussões sobre literatura
no Rio Grande do Sul eram orientadas pelo grupo do “Partenon Literário”, Sociedade
que surgiu em Porto Alegre aberta aos intelectuais da província de São Pedro.
Este grupo de romancistas, poetas,
professores e jornalistas movimentou o panorama cultural gaúcho, chegando a se
envolver em questões da vida social como a luta aberta contra a escravidão. A
sociedade patrocinou conferências, debates e cursos de alfabetização de adultos
e inaugurou uma biblioteca dedicada à filosofia, história e literatura. O grupo
também produziu uma revista, que seria o mais importante veículo de circulação
do debate cultural gaúcho do período. Fundou, junto com sua revista, uma “Comissão
de crítica”, pois entendia conveniente estimular entre os próprios agregados o
gosto pelo ensaio crítico. Contava com a liderança do maior romancista gaúcho
do momento, Caldre Fião, que já havia publicado a Divina pastora (1847) e O
corsário (1851). Animado pelo professor Apolinário Porto Alegre, seu
mentor, o grupo inaugurou o momento de reflexões mais profundas sobre os temas
da literatura e estabeleceu um circuito que fez circularem as ideias e as obras
dos autores gaúchos.
É importante notar que a sua atuação não se
restringe ao tempo de efetivo funcionamento da sociedade. Suas atividades neste
período – de 1869 até 1879 – iriam produzir reflexos nas realizações culturais
da região mesmo depois de seu encerramento, tendo merecido de Flávio Loureiro
Chaves o reconhecimento como a melhor expressão da vida mental do Rio Grande do
Sul até quase o final do século XIX.
Os textos escritos pelos pioneiros da
crítica literária gaúcha têm em comum o desejo de preservar o ideal romântico
de nacionalidade, o qual visava apropriar-se da natureza como o grande símbolo
para representar o local e estabelecer um modelo original, que não permitisse a
imitação da literatura portuguesa. As posições defendidas pelo grupo dos
partenonistas reafirmaram o interesse do Rio Grande do Sul na participação dos
temas nacionais daquele momento. A revista do Partenon Literário foi o fórum
para estabelecer os elementos a serem aproveitados pelos escritores como bases
para forjarem a literatura gaúcha, inspirando-se em temas enfatizados pela
crítica romântica: natureza, história, lendas e costumes, mas tornando
literária a paisagem da campanha e fazendo dela seu palco.
Os textos dos nossos críticos e poetas formadores
põem em relevo características, que atualmente podem ser notadas graças ao
nível do debate que se instalou com o Partenon Literário e seus sucessores.
Trabalhos como de Apolinário Porto Alegre, por exemplo, na análise que faz da
obra de Alencar; da crítica de Alcides Maya, observador atento dos problemas sociais
da campanha, que põe em discussão, pela primeira vez, a consciência social
rio-grandense e de João Pinto da Silva, com quem a crítica literária local
começa a ganhar a consistência da análise do objeto. Nomes que refletem um
pensamento em nada “provinciano”, e sim de mentalidade aberta ao novo. A
fundação da Sociedade Partenon Literário marcou o ano de 1869 como a data
“definitiva” da história da literatura gaúcha.
Após um longo período de afastamento, o
Partenon Literário reiniciou suas atividades em 1997 e, nos dias de hoje,
continua ativo e conta com cerca de 150 sócios entre poetas, professores, artistas
plásticos, jornalistas, músicos, atores e juristas. A Sociedade realiza uma
série de palestras, saraus, lançamentos de livros e outras ações envolvendo a
discussão dos atuais anseios e tendências da literatura e da sociedade em
geral, seguindo, assim, em sua vocação de proliferar a cultura.
* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...
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