sexta-feira, 19 de abril de 2013

O haikai

Forma poética de origem japonesa que remonta ao século XIII D.C., o haikai (ou haiku, ou haicai) tornou-se conhecido no Ocidente por sua valorização da objetividade e da concisão textual. Em sua fonte primária, segue a regra de conter sempre três versos, sendo que o primeiro e o segundo verso contém cinco ideogramas e o segundo verso, sete, os quais são publicados em japonês em uma única linha vertical. Esse formato foi trazido para a Europa com a ideia de um poema de três versos, sendo o primeiro e o terceiro de cinco sílabas poéticas e o segundo, de sete sílabas.

O haikai nasce sempre de uma cena ou um objeto natural. Para citar assuntos humanos em seus versos, o haijin (escritor de haikais) faz uma pequena reviravolta filosófica na qual coloca o homem não mais como o centro do universo, ou seu observador, mas parte dele. O haikai marca sempre um movimento, uma relação entre o geral e o particular.

O mais famoso haijin foi Matsuo Bashô (1644-1694), autor de alguns dos mais belos textos dessa forma poética. No Brasil, o haikai começou a ser difundido no início do século XX, sendo Afrânio Peixoto considerado o primeiro haicaísta brasileiro. Assim o escritor descreveu essa forma poética japonesa em seu livro Trovas Populares Brasileiras:

 Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível.

Mas o haikai foi, aos poucos, ganhando feições brasileiras. Guilherme de Almeida estabeleceu uma métrica própria, com o primeiro e terceiro versos rimando entre si e o segundo contendo uma rima entre a segunda e sétima sílabas poéticas; o poeta estabeleceu ainda um título para o haikai, o que foge ao que acontece no Japão. Descendentes de imigrantes japoneses, como Masuda Goga, propuseram uma forma mais próxima da original, com três versos e dezessete sílabas poéticas.

O grande incentivador do haikai no Brasil foi, no entanto, Paulo Leminski. Além de escrever diversos textos nesse gênero, o escritor publicou em 1983 uma biografia de Matsuo Bashô. Millôr Fernandes foi outro grande propagador dessa forma poética singular, que via o haicai como "forma frágil, quase volátil, dependendo da imagística mais do que qualquer outra poesia" e "forma fundamentalmente popular e, inúmeras vezes, humorística, no mais metafísico sentido da palavra". Esses dois autores divulgaram a arte dessa forma poética breve japonesa e criaram uma maneira bem brasileira de escrever haicais. Pelos desafios que oferecem aos poetas, os haicais também foram adotados pelos poetas vanguardistas por sua brevidade e impacto visual. Para a Poesia Concreta, o haicai foi visto primeiramente como modelo de composição ideogramática. Outros poetas que se seguiram a essa escola viram no haicai as potencialidades do efeito máximo na forma mínima de poesia.

Alguns exemplos de haikais de autores brasileiros:
Haicais de Paulo Meninski
Haicais ilustrados de Millôr Fernandes
Haicais de Guilherme de Almeida
Haicais de Fanny Dupré
Haicais de Robertson Frizero

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