por Mires Batista Bender
Bloomsday é o único feriado do mundo dedicado a um livro (excetuando-se a Bíblia). É comemorado no dia 16 de junho em homenagem ao Ulisses, de James Joyce.
O que poderíamos chamar de “o dia de Bloom” é a data dedicada ao protagonista do romance de Joyce. O Ulisses relata a odisseia da personagem Leopold Bloom durante aproximadamente 18 horas do dia 16 de junho de 1904. A ação é narrada em dezoito capítulos, cada um deles relatando eventos transcorridos num espaço de mais ou menos uma hora. Os episódios remetem a acontecimentos cantados na Odisseia de Homero, e em todos os capítulos encontram-se referências a um ramo do conhecimento e a uma parte do corpo humano. O autor utiliza-se de fluxo de consciência, de paródias e piadas, alcançando com sua escrita fragmentada a técnica que será uma das grandes contribuições de sua obra para a literatura do século XX. O livro é considerado um marco da literatura contemporânea ocidental.
Em várias partes do mundo, mas especialmente na Irlanda, terra de Joyce, o Bloomsday reúne amantes da literatura para realizarem diversas atividades com intuito de relembrar os acontecimentos vividos pelas personagens nas cerca de 900 páginas do romance, que se passa nas ruas e becos de Dublin.
Não é possível registrar com precisão o momento em que o dia 16 de junho começa a ser comemorado como o Bloomsday. Algumas pessoas indicam o ano de 1925, três depois da publicação do livro de Joyce. Outros aludem ao ano de 1941, falecimento de Joyce. Há os que julgam mais provável o ano de 1954, data do quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses. Encontra-se, porém, referência a uma carta de Joyce datada de 27 de junho de 1924 onde ele menciona a existência de um grupo que já reconhecia a data, 16 de junho, como Bloomsday (cf. Stuart Gilbert. Letters of James Joyce, New York, 1957, p. 216).
O fato é que, nos dias de hoje, o Bloomsday é uma efeméride incluída no calendário cultural de vários países.
No Brasil, diversas cidades celebram o Bloomsday. Em 2014, Natal comemora sua 28ª edição, São Paulo está na 27ª e Belo Horizonte, na 24ª. No Rio Grande do Sul, a cidade de Santa Maria detém a marca de local em que as comemorações acontecem há mais tempo. Desde 1993, a Associação dos Estudantes e o bar Ponto de Cinema reúnem os apaixonados por Joyce para leituras acompanhadas de charutos e música irlandesa – com entrada franca. O evento é organizado pelo Professor Agnaldo Medici Severino. Em Porto Alegre, as celebrações começaram em 2002, por iniciativa do Professor Donaldo Schüler, tradutor do Finnegans Wake, e há variados eventos espalhados pela cidade. Recentemente, as leituras regadas a cerveja têm sido acompanhadas pela música do trio Irish Fellas, um grupo de gaúchos cujo repertório é formado por músicas folclóricas da Irlanda e as chamadas “Irish drinking songs”, um estilo tradicional de música irlandesa.
É possível que o Ulisses de James Joyce seja, como muitos dizem, o livro mais citado e menos lido da história. Uma coisa é certa: é um dos mais celebrados.
* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...
Ulisses é um desafio. Eu " já não li", mas não me arrependo de ter tentado.
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