por Diego Petrarca
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Torquato Neto |
Torquato Neto foi um poeta mais situado nas letras das
suas canções do que nos livros. Em sua abreviada vida, marcou a poesia e
a música brasileira _ um dia após completar 28 anos, em 1972,
suicidou-se por inalação de gás. Um dos líderes conceituais do
tropicalismo, foi parceiro de músicos como Jards Macalé e Luiz Melodia,
compondo faixas emblemáticas como
Pra Dizer Adeus (com Edu Lobo) e
Louvação (com
Gilberto Gil). Reverenciado por poetas como Ana Cristina Cesar, Paulo
Leminski e Waly Salomão, abriu caminho para uma geração de novos autores
nos anos 1970 com sua poética fragmentária e se tornou referência da
contracultura no Brasil a partir da coluna
Geleia Geral no jornal Última hora, em 1971, e da idealização da revista de poesia
Navilouca.

Essa rica trajetória é narrada em
A Biografia de Torquato Neto,
originalmente lançada em 2005 e que agora ganha reedição ampliada - o
jornalista curitibano Toninho Vaz, também autor da biografia de Paulo
Leminski (
O Bandido que Sabia Latim), quis relançar o livro que
acredita ter passado despercebido à época. Em mais de 400 páginas,
apresenta o perfil lírico e conturbado do jovem jornalista Torquato
Neto, que, ao mesmo tempo, causa curiosidade e estranheza. Afinal, quem
foi esse rapaz, filho único, nascido em Teresina, Piauí, porta-voz da
tropicália que rompeu com os amigos baianos e destruiu parte da sua obra
literária, foi internado em hospitais psiquiátricos e pensou a poesia
para além da página. Mais: provocou o cinema novo e deu régua e compasso
para novas expressões poéticas _ era leitor de poesia concreta, Antonin
Artaud e Oswald de Andrade e fã de Carlos Drummond de Andrade a ponto
de segui-lo pelas ruas de Copacabana. Nenhuma dessas facetas de Torquato
escapa do texto minucioso de Toninho Vaz.
O poeta das elipses, dos inesperados curtos-circuitos
entre as palavras e da sintaxe descontínua, faria 70 anos neste
novembro. Além da reedição do livro de Vaz, está previsto o lançamento
de um documentário a respeito de Torquato para 2015. É mais uma chance
de mergulhar na obra do autor que tinha, entre suas frases mais
conhecidas, este verso do poema Cogito: "Eu sou como eu sou/ pronome/ pessoal intransferível/ do homem que iniciei/ na medida do impossível".
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O jornalista Toninho Vaz, autor das biografias de Leminski e Torquato Neto |
Confira entrevista com o autor:
A figura de Torquato é muito vinculada ao tropicalismo. Isso não acabou abafando outras produções do poeta?
O trabalho do Torquato foi interrompido por sua morte
precoce, mas falamos dele até hoje, o que revela a importância da sua
incipiente produção intelectual. Para Torquato, a experiência
tropicalista se soma a trabalhos feitos com músicos de outras áreas,
como Edu Lobo e Nonato Buzar.
O que o senhor mais destacaria da obra de Torquato?
Gosto do conceito criado por ele para a revista Navilouca,
reunindo jovens poetas daqueles conturbados anos 1970, todos de
vanguarda, incluindo os "professores" Décio Pignatari e Augusto de
Campos. A revista, entretanto, só foi editada depois de sua morte.
Considero um marco na poesia brasileira.
* Diego Petrarca é um dos mais profícuos e talentosos poetas da nova geração no RS, com diversas publicações no gênero. Professor de literatura e redação, ministra Oficina de Poesia na Sapere Aude! Livros. Saiba mais em http://oficinasliterarias.wordpress.com
**Texto originalmente publicado em Zero Hora: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2014/07/biografia-de-torquato-neto-chega-as-livrarias-em-edicao-ampliada-4540922.html
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