por Nurit Gil
No jantar...
- E ponto. Foi o que respondi.
- Ahã.
- Ahã?
- É. Por que?
- Eduardo, como 'por que'? Você não entendeu a sagacidade do meu comentário? O tom, a pontuação, o timing. Elementos que fizeram a minha resposta ser absolutamente hilária.
- É?
- Você só pode estar perdendo sua tenacidade intelectual
- Você acha mesmo?
- Sim. Você não entende mais as minhas piadas
- Claro que entendo. Simplesmente não achei graça
- Não é graça. É humor inteligente, para refletir e não simplesmente responder com grunhidos.
- Ana Paula, você estava me contando a resposta que deu. Eu entendi. Desculpe não estar refletindo.
- Antigamente você admirava minha perspicácia. Aplaudiria esta mesma resposta e complementaria com "é por isso que eu te amo".
- Ana...
- Costumávamos completar as frases um do outro. Éramos como brie com mel, pastel com caldo de cana, goiabada com queijo.
- Estou apenas cansado, o dia foi puxado. Não é uma crise conjugal, por favor, não exagere.
- E hoje somos como, como...
- Como?
- Manga com leite, churrasco com Chardonay, seu sistema digestivo com azeite de Dendê.
Eduardo caiu na gargalhada. Não conseguia segurar o riso. O tom, a pontuação e o timing tinham sido perfeitos.
- O que foi Eduardo? É sério. Qual a graça?
Ele pensou em responder "é por isso que eu te amo". Mas o dia fora longo.
- Nada. Passa o sal?
*Nurit Gil é uma paulista nos pampas gaúchos, formada em publicidade, mas nunca tendo exercido a profissão. Cronista de corpo e alma, a autora já trabalhou com vendas, marketing e foi mãe em tempo integral. Uma paixão? Nurit gosta de observar gente, escutar conversas, de preferência em ambientes abertos e com uma xícara de café. Sem chantilly. Semanalmente, publica nesta coluna suas impressões do cotidiano porto-alegrense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário