por Nurit Gil
A partir de hoje, sou francesa. Não quero que meus filhos façam
manhã e pretendo terminar as refeições com queijos.
Antes de entrar na maternidade, olhava para aquelas crianças
berrando no supermercado por causa de um iogurte ou jogando queijo ralado no
suco de laranja em pleno restaurante, diante de pais condescendentes com
olheiras e pensava: "Ah, quando eu for mãe...".
Pronto. Sou mãe. E para a surpresa das minhas convicções, meus
filhos já protagonizaram caos em supermercados, jogaram farinha no chá
gelado, enquanto eu - que sim educo, imponho limites e criei as 'regras da casa by Super Nanny' - estimulava:
- Isso, joga um pouquinho mais de farinha e depois ainda tem o
sal. Daqui a pouco eu acabo de almoçar e podemos sair correndo.
Já me flagrei pensando em qual momento meus planos foram por água
abaixo e finalmente, um sucesso editorial me trouxe a resposta: é tudo culpa da
educação brasileira. Portanto, além de termos em nossa herança cultural a
caipiroska de seriguela, somos exageradamente protetoras e entramos no mundo de
nossos filhos ao invés de trazê-los ao nosso. Exótico.
Acabou o xixi? Peraí que estou indo arrumar sua cueca.
Não gosta de tomate? Mamãe te faz macarrão com bifinho.
Quer brincar de princesa? Eu brinco.
Quer brincar de monstro? Vou te pegar!
Descalço não, aqui estão a meia e o sapato. Dá o pezinho.
Quer fazer uma tatuagem de canetinha na minha mão? Pequena, tá?
Programação do final de semana? Quatro festas infantis.
Vamos comer fora? Naquele restaurante com recreação e batata frita.
Acontece que, além do papel de super mãe, também gosto de sentar
no sofá, com os pés para cima e os olhos fechados, adoro comida indiana e
filmes não indicados para menores de doze anos. Só que com um detalhe: sem
culpa.
Desta forma e com a solução para o equilíbrio pronta, simples e
debaixo do meu nariz, resolvi adotar a técnica:
- Mãe...
- Oui.
- O que tem de sobremesa?
- Camembert.
- Ah, não pode ser danoninho?
- No.
- Por favor....
- Está bem vai, é petit
suisse. Traz que eu te dou na boca.
*Nurit Gil é uma paulista nos pampas gaúchos, formada em publicidade, mas nunca tendo exercido a profissão. Cronista de corpo e alma, a autora já trabalhou com vendas, marketing e foi mãe em tempo integral. Uma paixão? Nurit gosta de observar gente, escutar conversas, de preferência em ambientes abertos e com uma xícara de café. Sem chantilly. Semanalmente, publica nesta coluna suas impressões do cotidiano porto-alegrense.
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