por Mires Batista Bender
O jornalista, romancista e ensaísta Vianna Moog lançou, no ano de 1942, Uma interpretação da literatura brasileira em que nos faz pensar o Brasil como uma unidade melhor estudada em regiões separadas, as quais ele chama de ilhas.
Vianna Moog propõe um questionamento sobre o traço predominante em nossa literatura e encaminha para a reflexão a respeito da diversidade de tendências que ela apresenta. Segundo Moog, esta diversidade seria fruto da “profusão de diferenças geográficas, de meio, de forma de produção, de clima e de cultura” que encontramos no País. Moog chama a atenção para as características regionais e as influências que elas exercem no modo de fazer literatura e encontra nas “ilhas culturais” uma forma de tornar mais visíveis os fenômenos históricos, econômicos, políticos, sociais e literários da realidade brasileira.
A "ilha" São Paulo |
Segundo Moog, todos agimos dentro da órbita de nossos núcleos culturais e “antes de ser um bem ou um mal, isto é um fato irrecusável”. Assim, o ensaísta atribui ao escritor de São Paulo – estado que identifica como sendo uma das ilhas – um caráter dominador, que busca impor suas ideias às demais regiões, dada a raiz bandeirante em sua formação: “tudo ali tem esse sentido imperial de conquista. Tão logo o paulista se apossa de uma ideia, quer vê-la, em seguida propagada por todo o país”.
Posição contrária, percebe nas regiões colonizadas por imigrantes, como é o caso do Rio Grande do Sul (uma outra ilha), onde o apego à terra confere uma “exacerbação do individualismo” gerando uma literatura que não espera ser aceita fora e muito menos quer impor ideias.
A "ilha" Bahia |
A literatura baiana, Moog caracteriza como de “eruditos, humanistas e diletantes”. Atribui a isto ser resultado de “nossa civilização patriarcal, escravocrata e latifundiária”, características que toma como “mal congênito” de vários núcleos brasileiros, mas que teriam se sedimentado na Bahia.
Para Moog, o Rio de Janeiro (mais uma das ilhas), tendo se refugiado na literatura de costumes, invocando a ironia e o senso cítico, tornou-se o centro de julgamento do que se produz nos demais núcleos.
Na ilha Minas Gerais, Moog caracteriza o aspecto montanhoso como forte condicionante cultural. Apesar de refutar os doutrinadores do determinismo geográfico, argumenta que, no caso mineiro, o fator é irrecusável: “seus municípios, verdadeiros anfiteatros, separados uns dos outros por antemurais de granito, vivem vidas à parte”. Daí a literatura mineira não aderir a doutrinas alheias.
A "ilha" Amazônia |
Também a ilha Amazônia é afetada pela natureza, embora de maneira diversa. Na Amazônia o homem reage à imensidão cósmica e quer desvendar os segredos da selva, envolvendo-se profundamente com a natureza, vindo, assim, a literatura nesta região, ser uma interpretação da terra.
Na ilha nordeste, os contrastes naturais e sociais entre a “casa grande e a senzala, o rico e o pobre, o preto e o branco” geraram uma forma social de pensar a literatura, “polemística e panfletária”.
Ao olharmos a diversidade brasileira e apreciarmos as peculiaridades regionais, estamos oportunizando o aprendizado do todo brasileiro e podemos ver a história da literatura como parte de um processo. Se a singular análise de Vianna Moog não dá conta de todos os problemas que o estudo da literatura oferece, cumpre a importante tarefa de nos levar a pensar as peculiaridades regionais como parte do processo nacional, visando forjar um instrumento analítico mais autêntico.
* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...
É fácil visualizar as características regionais apresentadas, e faz todo sentido pensar que estas se refletem na expressão cultural do seu povo. É uma análise sociológica muito interessante.
ResponderExcluirJade, o Vianna Moog é um grande analista social, disseste tudo. Recomendo muito o "Bandeirantes e pioneiros", sobre as diferenças do progresso alcançado pelas sociedades norte-americana, formada por pioneiros e a brasileira, oriunda de bandeirantes. Super interessante.
ResponderExcluirLembro de ter lido Bandeirantes e Pioneiros na oitava série, gostei muito, foram ensinamentos que me ajudaram a conhecer melhor o mundo e outras culturas! Grande autor!
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