por Diego Petrarca
Fabrício Corsaletti |
Em 2013 o escritor e
poeta Fabrício Corsaletti lançou pela Companhia
das Letras o livro Quadras Paulistanas, uma reunião dos
poemas em 4 versos publicados originalmente na Revista da Folha, em
que o autor manteve uma coluna semanal durante 3 anos. O livro conta com um
diálogo entre palavra e imagem com a contribuição do
artista Andrés Sandoval, que ilustrou as quadras de acordo com
o enunciado dos poemas além de sugerir um acabamento gráfico diferente para a
edição.
O autor não privilegia o poema
no trabalho com a linguagem, ou melhor, privilegia de outro
modo, trabalhando aspectos do registro do cotidiano
numa linguagem simples, com vocabulário básico, mas acertando em achados
de som e sentido que aguçam o interesse pela leitura, ora tendendo para uma
narrativa, ora para uma bela crônica poética. Quadras Paulistanas recupera
a forma de quadra fazendo um texto breve com as surpresas semânticas nas
dobras de cada frase. A poética paulistana encravada no cotidiano da
cidade promovendo uma aproximação entre poesia e crônica, entre poesia e
reportagem, entre poesia e imagem das ruas. É um modo criativo
de conhecer Sampa e o livro serve também como um guia
turístico anticlchê nesse retrato subjetivo em que o autor se propõe sobre a
megalópole. Vibrei com a proposta e com a leitura.
Minissaia jeans e botas
de caubói - pernas douradas
sim, era outono em Paris
ela, minha namorada*
Nada alivia esta dor -
terapia, prece, emplastro -
de ter sido quase um pai
e agora ser ex-padrastoNunca gostei de montanha
sempre impliquei com Perdizes
no entanto, foi nesse bairro
que um dia fomos felizes
Corsaletti falou-nos um pouco sobre o seu processo criativo para Quadras Paulistanas:
O que motivou o formato do poema em quadra para compor a série do livro?
O que motivou o formato do poema em quadra para compor a série do livro?
Minha
coluna quinzenal na revista "São Paulo", do jornal folha de São
Paulo. Com a brevidade das quadras, descobri que poderia tratar de muitos
assuntos, assuntos sobre os quais talvez eu não tivesse mais do que 4 linhas
pra falar.
No seu ponto de vista, além do
aspecto sonoro e da brevidade, quais outros aspectos da quadra são propícios a
uma função poética de linguagem?
A rima é
algo que me atrai. E ela se sobressai, ganha uma força enorme na quadra.
Você concorda que a quadra é
um modo de aproximar a poesia do leitor comum? (até pelo histórico popular da
tradição da forma) e também pela estrutura lúdica, sonora, com um apelo
comunicativo, a ponto do poema/quadra soar próximo a um slogan
publicitário?
Sim. Mas
não vejo a quadra tão próxima do slogan publicitário. Penso que tem mais a ver
com a infância das pessoas, com o batatinha quando nasce e coisas assim.
Em Quadras Paulistanas o
cotidiano é um tema relevante, do mesmo esse tema é recorrente em sua poesia de
um modo geral. Quais outras marcas da sua poética estão presente também em Quadras
Paulistanas?
Não sei.
Não me preocupo com isso. E acho que um artista não deve avaliar o próprio
trabalho. Essa é a tarefa do leitor, do crítico.
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