por MIres Batista Bender
Considerado o maior poeta de língua portuguesa depois
de Luís de Camões, Fernando Pessoa faleceu no ano de 1935, de cólica hepática
ou “bloqueio intestinal” – de acordo com seu atestado de óbito – e foi
enterrado no jazigo da família, no Cemitério dos Prazeres.
Em 1988, por ocasião do centenário de seu
nascimento, os restos mortais foram trasladados para o Mosteiro dos Jerônimos,
em Belém, na cidade de Lisboa. É uma justa homenagem ao grande poeta, pois o
Mosteiro é considerado patrimônio mundial pela UNESCO e eleito uma das sete
maravilhas de Portugal. Lá, Pessoa repousa entre os túmulos de D. Manuel, D.
Sebastião, D. Henrique, Vasco da Gama e Luís de Camões.
Um fato curioso marca o traslado dos restos mortais
de Fernando Pessoa. Consta que ao abrirem a urna em que estava depositado o
corpo do poeta, este teria sido encontrado em perfeito estado de conservação,
apenas enegrecido.
Em 1989, o principal nome do Surrealismo português,
Mário Cesariny, escreveu um livro intitulado O virgem negra – Fernando
Pessoa explicado às criancinhas naturais e estrangeiras. Segundo depoimento
de Claudio Willer, este título faz referência ao episódio da abertura do caixão
do poeta e ao descobrimento daquele corpo ainda incorrupto, 53 anos após sua
morte.
De teor “complexo”, “esdrúxulo” e “agressivo”, como
o definiu o grande crítico e poeta Claudio Willer, o livro de Cesariny oferece
grande interesse e pode ser assunto demorado para o nosso tema “curiosidades
literárias”, obra de que poderemos tratar em outra ocasião.
O texto do poeta surrealista possui traços
marcantes, que são resaltados por Willer em seus ensaios sobre o livro. Uma
dessas marcas aparece no relato de um pseudo depoimento de Fernando Pessoa,
depois de morto, opinando sobre as comemorações de seu centenário e o traslado
de seus restos mortais: “O Virgem Negra, tal me descobriram/
Cincoenta anos depois,/ Em minha infusão estou. Tombam, deliram/ Em vão quantos
seguiram” (excerto do ensaio de Claudio
Willer “Alguns comentários sobre O virgem negra – Fernando Pessoa explicado às
criancinhas naturais e estrangeiras” – disponível em http://triplov.com).
Este é apenas um dos
muitos mistérios que envolvem a vida e obra do poeta dos heterônimos, cujo
trabalho ainda está sendo desvendado nos mais de vinte e
sete mil documentos encontrados na mítica arca que o poeta conservava trancada
em seus aposentos, e que guardava o tratado de uma existência poética em forma
de versos, ensaios e reflexões sobre a vida e a estética, somente aberta depois
de sua morte.
* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...
É ludico imaginar que para Fernando Pessoa as letras foram uma forma de embalsamar, legando o nome do poeta, como também o próprio corpo à posteridade.
ResponderExcluirQue pensamento mágico, Jader! Nada como um poeta pensando outro.
ResponderExcluirQue dupla! Quando o Jader vai fazer um texto em co-autoria com a colunista?!
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