sexta-feira, 9 de maio de 2014

Você sabe?!?... OS ESCRITORES PREFEREM OS GATOS



por Mires Batista Bender

Guimarães Rosa
O que a literatura tem a ver com os gatos? Eles são animais de hábitos noturnos, que parecem habitar um mundo misterioso, em uma esfera mística inatingível ao homem. Na antiguidade, os povos egípcios os adoravam atribuindo a uma deusa felina o poder sobre os poderes benéficos do sol e da lua. Na Pérsia acreditava-se que ao ferir um gato preto o homem estaria maltratando a si mesmo.

Na literatura, os gatos sempre tiveram o lugar de figuras enigmáticas e veneradas pelos autores. O poeta Charles Baudelaire adorava gatos e a eles dedicou famosos poemas e muitas horas de contemplação sendo criticado por lhes dar mais atenção do que à sua família. Edgar Allan Poe escreveu “O gato preto”, considerado um dos contos mais admirados na literatura universal, em que mostra a dualidade: a afetividade e a perversidade no homem.

A lista de escritores que apreciam e escrevem sobre gatos é infinda, e sua imagem marca os textos literários trazendo lições de amizade, sabedoria e inspiração cabalística. A escritora francesa, Colette, costumava dizer: “Cães pensam que são humanos, gatos pensam que são Deus”.

Ernest Hemingway
Na conhecida lenda de Charles Perrault, o gato de botas é a herança recebida pelo filho mais novo de um moleiro, o qual, inicialmente decepcionado, irá perceber que um amigo leal e espirituoso vale muito mais do que as riquezas que poderia ter recebido.

Lewis Carrol eternizou o gato de Cheshire numa personagem sorridente e filosófica que dialoga com Alice no País das Maravilhas, enquanto some e reaparece. É através desse contato que a menina passa a compreender um pouco do que acontece com ela.

Além da marcante presença em filmes como Breakfast at Tiffany’s, em que basta chamá-lo “gato”, a sugestiva figura deste felino permanece “em cartaz” no teatro em peças como o já histórico musical “Cats” encenado ininterruptamente há 30 anos desde sua estreia, em Londres, em 1981.

Na literatura brasileira, encontramos diversos exemplos do interesse dos escritores pelos felinos. Machado de Assis declarou: “O gato, que nunca leu Kant, é talvez um animal metafísico”.

Jorge Luis Borges
No livro, As horas nuas, Lygia Fagundes Telles dá voz ao gato Rahul. Ele é uma personagem que, através de seus pensamentos, traz reflexões sobre o comportamento dos humanos e a memória de um tempo em que acredita ter vivido outras vidas.

O poeta Ferreira Gullar diz ser falsa a ideia de que o gato não gosta do dono: “… ele é apenas mais sutil”.

Luiz Ruffato, um dos mais celebrados escritores brasileiros da atualidade, é um grande apreciador de gatos. Romancista com obras publicadas em diversas línguas, contista, ensaísta, poeta, jornalista, pesquisador, organizador de diversas antologias e cronista no Jornal El Pais, Rufatto dá valor aos momentos de tranquilidade que consegue junto aos gatos, enquanto trabalha em seu gabinete.

Segundo Ruffato, os escritores se identificam com os gatos, porque, como eles, esses felinos são introspectivos e amigos do silêncio:


 “Sempre tive gatos. Em minhas primeiras recordações estou envolvido por gatos. Uma das minhas primeiras apreensões foi o medo de perder uma gata, Pelezinha, que estava em trabalho de parto, e eu, criança, ouvindo seus miados doloridos, sem saber do que se tratava, entrei em pânico... Ao longo da minha vida, sempre estive acompanhado por gatos. Hoje, tenho dois (ou, melhor, sou de dois gatos, porque nós é que pertencemos a eles): Federico Felino e Sky. A minha relação com os gatos se dá primordialmente porque se trata de um animal independente, inteligente e sagaz: como eu queria ser...” Luiz Ruffato (em texto enviado por e-mail, especial para esta coluna).


Os gatos são silenciosos e passeiam com passos aveludados observando seus donos enquanto escrevem. Com seu olhar profundo e seus modos discretos, parecem ser a companhia ideal aos autores em processo de criação.



* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...

6 comentários:

  1. Não poderia haver tema mais lindo e cativante <3 surpresa boa pra essa manhã!

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  2. Eu, de minha parte, queria ser o gato de Ernest Hemingway.

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  3. Adorei Mires! Ainda sonho em começar a escrever de verdade, os gatos já tenho! hehe

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    1. Também sei que tens belas histórias para contar, Buss. Falta pouco, então!

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