por Nurit Gil
- O que você viu em mim?
- Como assim?
- Eu lá, deitada no meio da floresta encantada, cercada por um monte de anões. O que te fez parar e me beijar?
- Sua pele, seu ar angelical...
- Sem ser piegas.
- Mas é sério. Você deve estar naqueles dias.
- Não tem nada a ver com os meus hormônios. Só estava pensando...
- Em que?
- Se você não tivesse aparecido.
- Você nunca teria aberto os olhos.
- Claro que teria. Ou você acha que existe algum veneno que passe com beijo? Era provisório.
- Pode ser. Então você estaria agora cozinhando para sete anões.
- Ou teria abraçado uma causa nobre.
- Que?
- Sim, como a defesa dos mineradores.
- Sindicalista?
- Talvez. Ou uma ONG para defesa dos animais.
-
Peraí. Você está dizendo que trocaria sua vida de princesa encantada
pelos afazeres de uma casa compacta e as tardes passadas conversando com
coelhos?
- Você não entende.
-
Não, definitivamente. São três cozinheiros, duas damas de companhia e
uma ama de leite para as crianças. Banquetes, festas de gala, jóias do
reino e glamour. Tudo isso versus uma ONG?
- Glamour, glamour, glamour. Só isso importa?
- Foi o que te propus em cima do cavalo branco.
- Estou numa fase de repensar a vida.
- Então faça o seguinte: repense. Se preferir, saia palácio afora hasteando sua bandeira e defendendo sua causa.
O príncipe Kent saiu batendo as portas do aposento real.
E Snow White abriu a gaveta de sua cômoda, pegou o Rivotril e engoliu com Sidra. Nunca gostara de espumante francês.
*Nurit Gil é uma paulista nos pampas gaúchos, formada em publicidade, mas nunca tendo exercido a profissão. Cronista de corpo e alma, a autora já trabalhou com vendas, marketing e foi mãe em tempo integral. Uma paixão? Nurit gosta de observar gente, escutar conversas, de preferência em ambientes abertos e com uma xícara de café. Sem chantilly. Semanalmente, publica nesta coluna suas impressões do cotidiano porto-alegrense.
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