por Mires Batista Bender
Boudicca, conhecida pelos romanos como Boadicea, foi uma rainha
celta que liderou os icenos, juntamente com outras tribos bretãs, em levantes
contra as forças romanas que ocupavam a Grã-Bretanha em 60 d.C., durante o
reinado do imperador Nero.
Pode causar estranheza saber da presença de uma mulher a frente
das tribos bárbaras que enfrentaram os exércitos durante as conquistas do Império
Romano. Porém, o
historiador David MacDowall conta em seu livro, An illustrated history of Britain (1989), que, quando os romanos
invadiram a Bretanha, em 43 d.C., duas das maiores tribos celtas eram
comandadas por mulheres. Donas de enorme prestígio social elas podiam ser
eleitas rainhas e possuíam terras.
Os celtas chegaram à Bretanha
por volta do ano 700 a.C.,
provavelmente provenientes da Europa central, ou mais ao leste, do sul da
Rússia. Tecnicamente avançados e hábeis no manejo do ferro e superiores no do
cobre, com o qual faziam suas armas, os celtas se instalaram e dominaram
diversas regiões, entre elas a Bretanha francesa, o País de Gales, a Escócia e
a Irlanda. Ainda hoje é facilmente comprovada sua presença em determinadas
regiões onde a cultura e a língua celta se espalharam: na Irlanda, na Cornualha,
na Ilha de Man e nas Ilhas Britânicas, particularmente nas terras altas da
Escócia.
Não é possível falar de uma raça celta e sim de
diversos povos de diferentes origens que compartilhavam certas características
como os costumes religiosos e sociais e tinham cultura, língua e tradição
artística comuns. Estavam divididos por tribos e governados por chefes
guerreiros empenhados em constantes lutas internas.
Os celtas adoravam uma coorte de deuses e
glorificavam a natureza e a fertilidade. Não erigiam templos. Seus rituais
religiosos eram celebrados nos campos e florestas, principalmente onde houvesse
carvalhos antigos: símbolos do poder e da força divina, ou em círculos mágicos
de pedras de que temos notícia ainda hoje, como as ruínas de Stonehenge Avebury,
Silburg Hill e outras. Na sociedade celta havia equilíbrio de poder e igualdade
de direitos entre homens e mulheres. De acordo com a pesquisadora Maria
Nazareth Alvim de Barros (1948), os celtas não adotavam o sistema patriarcal e
as mulheres sempre ocuparam lugar de respeito entre eles, sendo consideradas
representantes do lado mágico e feérico do ser.
Boudicca,
a lendária guerreira celta, uniu as várias tribos – que constantemente lutavam
entre si – em um objetivo comum, usando lanças e machados contra os
disciplinados e super equipados exércitos romanos. A
fama desta rainha, como a de algumas outras mulheres celtas, assumiu a dimensão
de mito em toda a Grã-Bretanha. Uma estátua de Boudicca, representada segundo a
concepção da memória popular, é encontrada em Londres, ao lado do rio Thames,
próximo das casas do Parlamento.
Os eventos sobre a atuação da rainha
Boudicca, foram relatados pelos historiadores romanos Tácito (55-120 d.C.) – nos
livros Annales e Agrícola –, e Dião Cássio (~155-após 229 d.C.) em História Romana.
* Mires Batista Bender, doutora em Letras pela PUCRS, acredita que as palavras são magia e fez delas seu ofício. Professora de línguas e Literatura criou o primeiro fã-clube de escritor para homenagear a união entre seus maiores prazeres: pessoas e poesia. Interessada e curiosa por todos os temas que fazem fluir o poético, conversa sobre eles nesta coluna...
Uma tribo celta, os, lusitanos, instalaram-se na península ibérica, onde hoje é Portugal. Desde ali partiram a colonizar diversos territórios, inclusive o Brasil. Conhecer a história celta é também visitar nossas origens europeias.
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