Como sempre, subo as escadas do casarão com uma pressa injustificável,
pois nada que eu fizer mudará a situação.
Aparentemente, não há ninguém em casa. Com a angústia habitual, entro em
seu quarto sem bater, pois a porta está apenas encostada. Ainda é dia, mas a
penumbra e o silêncio dominam. Acima da janela semicerrada, uma mandala de
acrílico, colorida e transparente, produz efeitos luminosos e bonitos que
refletem nas paredes.
No quarto há o aroma amadeirado de seu perfume misturado ao
cheiro de hospital.
Acho que ela
adormeceu lendo, pois há jornais abertos, recortes e uma revista de roteiros de
viagens com um casal dançando tango na capa. Ao lado da cama imensa, uma cômoda
antiga ocupada por medicamentos, livros de psicologia empilhados, CDs de música
clássica e porta retratos. Fotografias de crianças, seus filhos, que mesmo já
adultos, jamais irão crescer. No banheiro conjugado, lavo as mãos e observo o
grande espelho emoldurado de luzes que lembra o camarim de um teatro. Uma
coleção de sapatinhos de vidro, a bancada da pia com perfumes e produtos de beleza.
Dirijo-me
ao closet, também extensão do quarto. Ali, suas roupas, sapatos e caixas com jóias
estão cuidadosamente dispostos como se fosse um brechó.
Finalmente, deito ao
seu lado e sinto sua mão quente, levemente trêmula, tocar a minha. Ela, com os
olhos fechados, pergunta:
– És tu, Neca?
– Sim,
mãe, acabei de chegar. Estás com dor?
– Não, agora não mais – ela responde segurando minha mão com um pouco
mais de força – Agora que chegaste, não mais.
Eu então fecho os olhos e, sentindo uma certa paz, tento
perpetuar aquele momento.
Lea Heck
Na seção PRATA DA CASA, publicaremos semanalmente textos escritos pelos alunos das diversas oficinas literárias ministradas na Sapere Aude! Livros. O texto de hoje é de Lea Rech, aluna da Oficina de Iniciação à Criação Literária do professor Robertson Frizero. Quer conhecer mais sobre nossas oficinas literárias? Acesse: http://oficinasliterarias.wordpress.com
Parabéns, Neca! Beijo!
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