O PISTOLEIRO (Objetiva) |
Ele não desejava ser nada mais do que era e, assim sendo,
se tornou enorme. É essa a minha impressão de Stephen King, com todas as suas
mais de 50 publicações (e subindo). Se marcou como escritor de gênero, o
horror, mas produziu diversas obras cujo lugar não é na escuridão debaixo da cama
ou nos mistérios dentro do armário. Temos excelentes livros (e adaptações) que
fogem ao estilo base de King, como Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank (que
deu origem ao filme Um Sonho de Liberdade, primeiro lugar no top 250 do IMDB),
O Corpo (que originou o clássico da nossa adolescência, o gerador de nostalgia
Conta Comigo) e a saga que me fez começar esse blá blá blá todo, A Torre Negra.
Antes de dizer porque diabos eu tive que estragar tudo
escolhendo oito livros ao invés de um como meu preferido, tenho que salientar
que além de ter escrito minha saga favorita, Stephen King também é meu autor
favorito. Ele não é e nem tem pretensão de ser um clássico, ele mesmo
classifica a literatura dele (erroneamente, ao meu ver) como o Big Mac da
literatura. Algo que devoramos por prazer, e não porque vai nos preencher com
os nutrientes que necessitamos no dia a dia. Algo que até os nutricionistas
acabam devorando com intensidade e prazer culposo. Contudo, não foi só pela
versatilidade, simplicidade e domínio da escrita que King me ganhou. Ele é um
autor que tenta ao máximo estar próximo de seus leitores. Essa proximidade com
alguém que ganha a vida escrevendo, essa sinceridade que transborda nos
prefácios e posfácios em quase todos os seus livros, foi uma das milhares de
coisas que me incentivaram a ser um escritor. A possibilidade de estar próximo
aos meus leitores, mesmo não estando.
E foi em um desses prefácios, intitulado “Sobre ter 19 anos
(e algumas outras coisas)”, lido quando eu tinha 19 anos, que me identifiquei e
me encontrei com meu patrono literário. Nesse texto ele disserta sobre como
tudo é grandioso e precoce quando você tem essa idade, sobre como ele sempre
quis criar algo grande, uma saga, como O Senhor dos Anéis. Ele diz com todas as
palavras que A Torre Negra, assim como diversos grandes romances da sua
geração, tiveram suas raízes na saga de Tolkien. O texto segue contando como,
aos 19 anos, King demorou a reagir, literariamente, ao fervor que sentiu após
ler a coleção de Tolkien e que outra inspiração primordial foi o poema “Childe
Roland to the Dark Tower Came”, de Robert Browning. Ele explica de onde
vieram as outras referências da sua própria saga e como desenvolveu esses
conceitos.
Entender a origem de uma história, quando se está começando
a lê-la, é parte integrante de envolver-se com ela. E é impossível não se
envolver com a história de Roland Deschain, um cowboy solitário em uma terra
árida, seca e sem vida. É impossível não querer seguir para a próxima frase ao
ler “O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás”. Essa frase,
por si, resume a incrível história que se desenrola em oito livros, que crescem em tamanho de páginas, personagens, trama e qualidade
literária. Porque não é só o crescimento de Roland que acompanhamos em A Torre
Negra, como personagem, mas também o de King, como escritor. Apesar de todas as
revisões posteriores, em O Pistoleiro, o primeiro volume da saga, ainda pode-se
sentir as referências, sonhos e pretensões de um jovem escritor de 19 anos. E,
considerando que o oitavo volume foi terminado em 2012, podemos até hoje sentir
na saga os sonhos, pretensões e referências de um escritor em constante
crescimento, agora com 65 anos.
Não é segredo que King também costuma criar histórias que
tenham origem em fatos de sua vida. O Iluminado é uma tentativa de trabalhar
seu período como alcóolatra, assim como O Corpo pode ter sido originado em sua
experiência infantil de presenciar, com sua mãe, um suicida esparramado na
calçada. Em A Torre Negra percebemos diversas personalidades que podem ou não
advir de King como autor e como pessoa. Pelo sexto livro compreendemos a
importância que a saga tem e teve na vida do autor e em como ele é envolvido
com Roland e companhia. Para King, a história de Roland perseguindo o homem de preto
e a Torre Negra é como seu feixe de luz, como seu caminho de tijolos amarelos.
Eu posso passar horas escrevendo sobre os motivos de A Torre
Negra me envolver tanto, da capacidade de King de apresentar um personagem
egoísta e odioso no primeiro livro à sua habilidade em fazer com que você
queira seguir lendo a história desse personagem. Do universo infinito que ele
apresenta durante a narrativa às referências aos outros livros que não estão
diretamente ligados à saga (como a presença do Padre Callahan, surgindo no
quinto volume da Torre Negra, que tem sua origem em A Hora do Vampiro).
Entretanto, acho melhor finalizar dizendo que além da grandiosidade da obra (em
constante crescimento, já que King disse que almeja criar a maior saga da
história das sagas, e que partes não contadas da narrativa estão sendo
desenvolvidas em HQs), o que me faz escolher ela como minha preferida é a
presença do meu autor preferido em toda ela. Stephen King nos leva pelos mundos
de sua imaginação, por personagens carismáticos, profundos e envolventes, e
prova que pode ser um autor de terror, mas a obra de sua vida é uma saga de
aventura western.
Se você só conhece King por suas obras de horror, se você
não gosta de King por preconceito contra a “baixa literatura” ou se você nunca
leu King, mas adora grandes sagas de aventura e é fã do Clint Eastwood,
recomendo que compre O Pistoleiro, sente e deixe-se levar pelos passos de
Roland Deschain através do Mundo Médio, atrás do homem de preto e da
inalcançável Torre Negra.
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